Máquinas Navais III
este arquivo docx aberto leva o título poemas p/ o Rio, no rodapé da página consta-se a data 2018/2021. desde então nunca mais escrevi poemas
[uma mulher sobre a máquina]
Os jovens já enxaguam seus camuflados
o país sempre foi esse mundo e também
aquele mundo é como eles diziam
é preciso erguer fábricas
de facas e bustos
minúsculos
me perguntaram se eu vi
e eu não vi a vitória contrahegemônica
se vi todas as bandeiras
tombando
– com exceção
mas vi
a loja de bolsas dilapidada e as bolsas fazendo o caminho da Lapa
e Carolina que as levava
pregada no muro branco
da floricultura
as caixas guardam o silêncio dos caranguejos devorados
no sótão com as estátuas arqueadas e os musgos
este lugar onde eludem o sono
e aqui meus olhos minúsculos
quando rio
as estátuas não deveriam estar nas ruas
eles não deveriam estar aqui
não me importa tanto as anedotas sobre o que aconteceu na cidade, porque, de fato, nada cessou
de acontecer na cidade.
a estátua a metade
de uma estátua e a metade
da metade da estátua i.e
somente as pernas e os pés
da estátua o culote
e uma bota
é do tipo que preservaríamos
como os sete esqueletos
de navios ancorados
no buraco de boi
– um materialismo gótico –
e não deveríamos
como sempre
erguer templos para o lento cancelamento do futuro
se os jovens já enxaguam seus camuflados
e a p76 atracou quando eu dizia
só haver coisas minúsculas
na baía
:
um barril de latão
vermelho ferrugem
usado como boia
de atracação
todos têm seus nomes, Antônio
dos projetos de construção abandonados
como as gigantescas estruturas metálicas
na baía de Paranaguá
a Jonas de balaclava
nos portões
da universidade
diz chorar todas as manhãs
seus endividamentos e à noite
conta os gansos através
da fresta da balaclava
todos têm seus nomes, Antônio
e por que nos regurgitamos sobre os
velhos hinos se vi
a destreza da juventude sobre os jipes
e senti o olho travar no êxodo
o espectro que caracteriza a experiência do político como horizonte de emancipação é sempre da ordem do não mais ou do não ainda. entre a possibilidade este é o tempo
da condescendência ela diria
e eu repetiria
em uma semana foram
duas as vezes
que escutei um pipoqueiro
conspirar contra a prisão do ex presidente
ser um espinosista é
ao mesmo tempo a tarefa mais simples
e mais difícil do mundo
os casacos se empilharam nos viadutos
a chaminé sobre as ruínas da fábrica de sabão
a caixa d´água sobre as ruínas
do gasoduto, sim
um breve relato sobre a desindustrialização
um compromisso apresentar o passado
como heterogêneo
e incompleto, agora
é o fim da indústria naval
os antigos galpões
de armazenamento
brilham e os jovens
sob os escombros
já enxaguam seus camuflados
acho que sei de cor de tanto que li e reli ❤️