Não deixarei nenhum livro de memórias, apenas uma vaca de Maldoror. Há um homem. Ele me diz que não gosta da versão da história em que ele é igual a Simon Legree e que me amarra aos trilhos do trem. Isto é porque ele é igual a Simon Legree que me amarra aos trilhos do trem. Ele é o homem que observa o azul do céu e diz "não se lembrar do azul do céu ser azul."
Olho com meus olhos para o azul do céu e vejo que é azul, então, também olho com meus olhos para ele e faço uma nota para não me lembrar do azul do céu como azul. Também faço uma nota para me lembrar da proclamação, feita por ele, contra a cor do céu. Faço uma nota, também, para que me lembre de ter conhecido o céu azul e que, então, me disseram para esquecer o eu que conhecia o céu sendo azul e provavelmente o fiz. Faço uma nota para questionar a legitimidade de qualquer uma dessas notas porque estas são notas sobre pessoas que juntas acreditam que uma sentença humana – uma proferida por um homem e ouvida por uma mulher – pode deslocar o azul do próprio céu.
Que eu caminharia todos os dias e veria o céu azul e isso significaria o que quer que fosse. Que ter visto por tantos anos céus azuis não faz o céu azul daquele dia azul.
Há uma verdade equivalente e independente que existe lado a lado do próprio céu: que é o que ele diz contra isso. Nisso, ele é como todos os outros homens: imperativo. O céu pode existir como uma cor conhecida mas os imperativos desses homens são igualmente persistentes e conhecidos.
Apesar da realidade celeste, que é azul, uma mulher com nenhum interior esbarrou em um homem com nenhum exterior. Ou é isto que leio em minhas notas: mesmo a cor do céu só é certa quando comprovada por um homem.
Esta é apenas uma entre muitas histórias. Até agora fui capaz de construir vinte duas. Fui capaz de contar a mim mesma duzentas histórias enquanto amarrada aos trilhos do trem pelo amante que diz que ele é igual a Simon Legree para que ele não apareça na versão da história em que ele é igual a Simon Legree.
Suspeito, como muitos humanos desta cultura, que eu tenha visto mais imperativos masculinos do que céu. Destas duas realidades – aquela que é do céu, empírica e colorida, e aquela do homem que insiste em dizer a outra pessoa que o céu que ela vê com seus olhos não é real – eu cheguei a realidade do homem.
Tenho lido sobre eles em livros: "não conheço, de tudo isso, o que é atraente nesta pessoa; mas imediatamente senti que é uma questão muito simples amar um homem desses."